6 passos para recuperar sua conta clonada no WhatsApp, quais os direitos da vítima e como a Justiça tem decidido

A clonagem de WhatsApp, ou o sequestro de contas nessa plataforma, tornou-se um dos golpes digitais mais recorrentes no Brasil. Segundo dados de órgãos de segurança pública e relatórios de especialistas em cibersegurança, milhares de pessoas sofrem com esse tipo de fraude todos os meses. Mas, afinal, o que fazer quando sua conta do WhatsApp é clonada? Quais medidas jurídicas podem ser adotadas? E como a jurisprudência brasileira tem tratado o tema?

O que significa “clonagem de WhatsApp”

Apesar de o termo popular ser “clonagem”, na maioria dos casos estamos diante de um sequestro de conta. O golpista não copia o aplicativo, mas assume o controle do perfil, geralmente por meio de engenharia social (quando a vítima compartilha sem querer um código de verificação enviado por SMS) ou por técnicas como SIM swap (quando a linha telefônica é transferida indevidamente para outro chip).

Outra modalidade comum é a criação de perfil falso com foto e nome real da vítima, usado para enganar familiares e amigos pedindo transferências via PIX.

6 passos para recuperar sua conta clonada no WhatsApp

  1. Recupere o acesso à conta
    • Reinstale o WhatsApp, insira seu número e peça o código de verificação por SMS.
    • Se o invasor ativou a verificação em duas etapas e você não tem o PIN, o WhatsApp exige espera de até 7 dias para recuperação sem o código.
  2. Ative a verificação em duas etapas
    • Defina um PIN de 6 dígitos e um e-mail de recuperação. Essa é a forma mais eficaz de impedir novas invasões.
  3. Verifique dispositivos associados
    • No menu do aplicativo, encerre sessões suspeitas em WhatsApp Web ou aplicativos de desktop.
  4. Alerta imediato aos contatos
    • Avise familiares, amigos e clientes de que sua conta foi comprometida e que não deve ser feita nenhuma transferência de valores sem confirmação por ligação.
  5. Registro de ocorrência
    • Utilize a Delegacia Eletrônica do seu estado para registrar boletim de ocorrência, anexando prints e protocolos.
  6. Preserve todas as provas
    • Guarde capturas de tela de mensagens fraudulentas, recibos de PIX, protocolos do banco, registros de operadora e comunicações com o suporte do WhatsApp.

Responsabilidade das plataformas e dos bancos

A responsabilidade jurídica pode variar conforme a situação:

  • Plataformas digitais (Meta/WhatsApp):
    Já existem decisões judiciais condenando a empresa por falhas na remoção de contas falsas que usavam fotos reais da vítima.
  • Instituições financeiras:
    O STJ consolidou entendimento de que bancos respondem objetivamente por fraudes digitais (Súmula 479), salvo se houver culpa exclusiva do consumidor.

  • Se o cliente comunica roubo do celular e, mesmo assim, o banco permite movimentações, a instituição deve indenizar.
  • Se o banco recebedor do PIX não adota diligência mínima e permite que contas laranjas recebam valores de fraude, pode ser responsabilizado.

  • PIX e Mecanismo Especial de Devolução (MED):
    A vítima deve solicitar ao banco emissor o acionamento do MED imediatamente após identificar a fraude. Esse mecanismo pode bloquear os valores recebidos indevidamente.

Jurisprudência recente

  • STJ (2024): Banco condenado por permitir transações após comunicação de roubo de celular: Em fevereiro de 2024, a Terceira Turma do STJ decidiu que um banco deve responder pelas transações feitas no aplicativo mesmo após a vítima ter comunicado o roubo do celular. O tribunal reconheceu que, uma vez avisada, a instituição financeira tem o dever de adotar imediatamente medidas de bloqueio e segurança.
  • Leia a decisão no site do STJ (REsp 2.082.281)

  • STJ (2025): Responsabilidade do banco recebedor em casos de PIX fraudulento: Em janeiro de 2025, o STJ analisou um caso de golpe em leilão falso e estabeleceu que a responsabilidade do banco recebedor só se configura quando há falta de diligência na abertura ou manutenção da conta digital utilizada pelos criminosos. Ou seja, se o banco não checa corretamente a identidade do titular ou permite contas laranjas, pode ser responsabilizado.
  • Leia a decisão no site do STJ (REsp 2.124.423)

  • Meta/WhatsApp condenados por contas falsas com fotos reais das vítimas: Além dos bancos, a própria Meta (WhatsApp) já foi condenada por não agir de forma eficaz diante de perfis falsos que utilizavam a imagem das vítimas para aplicar golpes:
  • TJSP (2022): a Justiça paulista reconheceu a falha da plataforma ao não remover conta falsa mesmo após notificação, condenando-a a indenizar a vítima. Leia a notícia aqui.
  • Empresas que usam WhatsApp Business podem enfrentar prejuízos significativos em caso de banimento injustificado da conta comercial. A jurisprudência tem apontado que tal bloqueio pode configurar falha na prestação de serviço, dando margem à reparação por danos. Leia o acordão completo aqui.

Esses precedentes fortalecem pedidos de indenização por danos materiais e morais.

Passo a passo jurídico para vítimas de WhatsApp clonado

  1. Recuperar a conta no aplicativo e ativar verificação em duas etapas.
  2. Avisar contatos e registrar boletim de ocorrência digital.
  3. Acionar imediatamente o banco emissor do PIX para bloquear a transação via MED.
  4. Preservar todas as provas digitais, preferencialmente exportando conversas.
  5. Ingressar com ação judicial, quando houver:
    • necessidade de remoção de perfil falso;
    • pedido de identificação de golpistas (art. 22 do Marco Civil da Internet);
    • indenização contra bancos ou plataformas por falha de segurança ou negligência.

Como se proteger preventivamente

  • Ativar sempre a verificação em duas etapas no WhatsApp.
  • Nunca compartilhar códigos recebidos por SMS.
  • Desconfiar de pedidos urgentes de dinheiro, mesmo de contatos próximos.
  • Preferir ligações para confirmar situações suspeitas.

Conclusão

A clonagem de WhatsApp não é apenas um inconveniente, mas um grave incidente digital com repercussões jurídicas relevantes. A vítima não está desamparada: há medidas imediatas de proteção, mecanismos oficiais de bloqueio de valores e, principalmente, respaldo da jurisprudência para buscar indenização.

No fim, a orientação jurídica especializada pode ser a diferença entre arcar sozinho com o prejuízo ou responsabilizar quem falhou na segurança.

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